Pesquisa da Ufal é voltada ao desenvolvimento de novos fármacos anticancerígenos

Estudo foi capa de renomada revista científica alemã

Por Thâmara Gonzaga - jornalista
Professor Júlio da Silva e a estudante Gabriela da Silva pesquisam novos fármacos anticancerígenos
Professor Júlio da Silva e a estudante Gabriela da Silva pesquisam novos fármacos anticancerígenos

Problema de saúde pública mundial, o câncer vem se configurando como uma das principais causas de morte entre a população, segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca) . Diante dessa realidade, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento vêm se mobilizando em busca de medicamentos mais efetivos e com menos efeitos colaterais para os pacientes.

No Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a estudante de graduação Gabriela da Silva e o professor Júlio da Silva se dedicam aos estudos dos complexos de platina, já conhecidos por sua ação anticancerígena. A primeira parte do trabalho, voltada para a validação da metodologia teórica, foi capa da prestigiada revista científica alemã Wiley-VCH, edição de maio, e pode ser conferida neste link . Os trabalhos continuam com a aplicação da metodologia para o estudo com mais sistemas à base de platina.

Gabriela contou que é gratificante participar da pesquisa não apenas por ter o artigo publicado, mas pela possibilidade de expandir os conhecimentos na área. “Expresso que é uma sensação surreal ter um artigo publicado em uma renomada revista, ainda mais por ser o primeiro artigo. Essa conquista me trouxe muitas emoções, mas acredito que principalmente me mostrou a tamanha importância e como o nosso trabalho está sendo valorizado. Apesar de todos os desafios, é possível realizar ciência em nosso país e ser reconhecido por uma revista internacional importante. Isso me motiva a querer contribuir, aprender e realizar cada vez mais”, afirmou.

Além da discente e do professor da Ufal, o artigo intitulado Explorando o conceito de efeito trans em complexos de Platina (Pt II) através da teoria quântica dos átomos em moléculas e perspectivas do modelo de sobreposição de ligação química conta com a autoria de Carlos Santos, doutorando da Universidade Federal da Paraíba/UFPb, Roberta Dias, professora do Núcleo Interdisciplinar de Ciências Exatas e da Natureza da Universidade Federal de Pernambuco/Nicen-UFPe e Renaldo Tenório, professor da UFPb.

Júlio da Silva explica que a pesquisa em andamento é voltada ao “estabelecimento de metodologias computacionais baseadas em métodos de química quântica para o estudo de mecanismos de reação em complexos de platina”. O estudo é bem complexo, mas, numa abordagem mais compreensível, o professor esclarece que o trabalho está inserido na área da química denominada química computacional, onde simulações e cálculos, baseados em teorias da física e da química, são realizados em computadores para estudar e prever propriedades de sistemas moleculares. Em vez de realizar experimentos em laboratório, continua o docente, os cientistas usam modelos matemáticos e teóricos para entender como as moléculas interagem e como essas interações podem influenciar processos químicos, incluindo processos em que fármacos interagem com alvos biológicos.

Ao falar sobre o desafio de fazer pesquisa na área de química computacional, a estudante declarou que é uma área que demanda conhecimentos específicos que, muitas das vezes, não se tem contato na graduação, mas que isso não foi impeditivo. Na verdade, foi uma motivação. “A falta de conhecimento da área vem sendo adquirida com o tempo, com a dedicação e o interesse atuando como papel fundamental”, garantiu.

Busca por novos fármacos

Professor Júlio comenta que os complexos de platina(II), Pt(II), são de grande interesse em pesquisa química devido ao potencial anticancerígeno que alguns possuem. “O composto conhecido como cis-platina, por exemplo, é um fármaco bastante utilizado no tratamento de alguns tipos de câncer, tais como de testículo, ovário, bexiga e pulmão. Entretanto, seu uso é limitado devido a uma série de efeitos colaterais desenvolvidos nos pacientes. Dessa forma, tem sido desenvolvido ao longo dos anos estudos na busca por novos compostos à base de platina que apresentem ação efetiva contra o câncer, porém com melhora na redução dos efeitos colaterais”, explica.

A cura do câncer, por meio de procedimentos e remédios menos invasivos, está no foco de trabalho de pesquisadores de todo o mundo. Sem querer criar grandes expectativas, o professor da Ufal adverte: “O desenvolvimento de melhores fármacos, ou seja, medicamentos com menos efeitos colaterais e mais eficientes, demandam tempo para entendermos detalhadamente sobre como esses compostos alcançam os alvos biológicos de interesse, tais como as células danificadas”.

E continua: “O problema é que a nossa matriz biológica é bastante complexa, uma vez que é composta por proteínas, DNA, RNA, etc. Além disso, toda essa matriz está imersa em água. A água desempenha um papel fundamental nas transformações químicas que compostos inorgânicos, tais como os compostos de platina (II), sofrem até atingirem os alvos biológicos de interesse”.

Por isso, salienta o professor, a importância de estudos contínuos na área. “Nosso objetivo com essa pesquisa foi tentar buscar um entendimento ao nível molecular sobre como reações químicas elementares em compostos de platina (II) ocorrem, visando uma forma de propor parâmetros que auxiliem na racionalização dessas reações”, destacou.