Complexo Esportivo da Ufal enfrenta dificuldades com orçamento para manutenção

Reparos emergenciais correspondem a 150% do orçamento de toda a Universidade

Por Manuella Soares - jornalista
- Atualizado em
Complexo Esportivo da Ufal enfrenta dificuldades com orçamento para manutenção
Complexo Esportivo da Ufal enfrenta dificuldades com orçamento para manutenção

Lugar de vitórias, de alegrias, superação e incentivos. O Complexo Esportivo da Universidade Federal de Alagoas ocupa uma área de 48 mil metros quadrados, pensado para sediar grandes competições e ser um espaço acadêmico para atender às comunidades externa e interna com projetos de extensão e pesquisas. Inaugurado em dezembro de 2019, o espaço é, agora, um lugar de resistência e batalha para os gestores, porque enfrenta sérios problemas estruturais e financeiros.

O professor Gustavo Gomes, diretor do Instituto de Educação Física e Esporte (Iefe), conta que a situação do Complexo Esportivo da Ufal é um acúmulo de problemas não solucionados por falta de verba para manutenção. Quase cinco anos depois da inauguração, e com o orçamento comprometido, chegaram os danos físicos como infiltração, estruturas metálicas cedendo, destelhamento e pisos esportivos danificados irreversivelmente.

Gomes reforça que isso diminui a capacidade de atendimento em relação à quantidade e à qualidade da oferta ao público na área pedagógica, dos produtos científicos e de extensão. Os gestores já precisaram interditar vestiários, arquibancadas, campo específico de uso e suspender as atividades noturnas, já que os refletores de todos os espaços estão danificados.

“A situação atual do Complexo Esportivo inibe a elaboração de novos projetos e convênios bem como a expansão e desenvolvimento universitário, levando a um prognóstico de curto prazo de interdição total dos espaços e, consequentemente, inviabilidade de atendimento público”, alertou o diretor Gustavo Gomes.

Semanalmente circulam cerca de duas mil pessoas nas salas, laboratórios e espaços de desenvolvimento de projetos pensados para corrigir as desigualdades sociais, de gênero e de minorias. Além disso, o Complexo recebe as principais competições locais e regionais vinculadas às principais federações e secretarias esportivas do Estado. Mas devido às condições atuais, Gomes lamenta:

“Ao passo em que o Complexo tem sido um marco esportivo e cultural para o estado, impactando substancialmente no desenvolvimento educacional, social e científico da comunidade alagoana, a interdição dos espaços provocaria inevitavelmente a reversibilidade”.

O reitor Josealdo Tonholo ressalta que se não houver uma recomposição no orçamento, a Universidade não vai conseguir fazer o trabalho de manutenção das instalações, principalmente no Campus A.C. Simões. “É muito difícil ver a situação do Complexo Esportivo, mas estamos todos de mãos atadas porque sem orçamento não podemos fazer nada. É uma estrutura gigantesca e precisa de muito dinheiro para se manter”, lamentou Tonholo.

E destaca: “Mesmo com todas essas dificuldades, a equipe do Instituto de Educação Física, liderada pelo professor Gustavo Gomes, tem dado uma contribuição expressiva para o estado de Alagoas, inclusive com a oferta de dois cursos de graduação, licenciatura e bacharelado, e três cursos novos de pós-graduação stricto sensu: o mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional, o mestrado em Ciências do Movimento e o mestrado Profissional Associado em Educação Especial.”

Efeito “bola de neve”

O Iefe detém de uma das maiores áreas da Ufal, com equipamentos esportivos financiados pelo Ministério do Esporte, a partir de processo de suplementação orçamentária, somando aproximadamente R$ 29 milhões de recurso público entre 2015 e 2019.

É no Complexo Esportivo onde estão equipamentos certificados internacionalmente numa estrutura física constituída de pista de atletismo, estádio de futebol, ginásio esportivo, quadras de areia, parque aquático e quadras externas. O parque imobiliário tem alto valor agregado e demanda manutenção especializada, de alto custo.

O superintendente de Infraestrutura da Ufal, Felipe Paes, revela que só a pista de atletismo e o telhado da arquibancada, deteriorados durante o período da pandemia, necessitam de um investimento de cerca de R$ 6 milhões para correção, o que corresponde a 150% do orçamento anual de manutenção de toda a Ufal.

Ele lembra que o orçamento de custeio das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) está defasado há anos, e agravada a partir de 2016, com sucessivos cortes. Este ano de 2024 a Ufal recebeu do MEC um valor para custeio comparável ao de 2009, mas Felipe ressalta que 15 anos atrás a Universidade tinha outro cenário.

“De lá pra cá, a Ufal teve um crescimento em área construída de quase 100%. Conforme consta no último levantamento imobiliário realizado em 2023, a Ufal possui um patrimônio avaliado em aproximadamente 800 milhões de reais, sendo necessário, anualmente, pelo menos, 2% desse valor [R$ 16 milhões] para manter minimamente as suas edificações em funcionamento, podendo esse percentual aumentar até 10%, a depender das condições de conservação de cada edificação. Pois bem, em 2024 foram disponibilizados apenas R$ 4 milhões, repetindo o mesmo padrão de sub financiamento dos últimos oito anos, ocasionando o efeito ‘bola de neve’ com acúmulo de problemas estruturais ao longo desse período”, explicou Paes.

O superintendente diz, ainda, que a dificuldade em cumprir o cronograma de manutenção não está restrita ao Iefe e ao Complexo Esportivo: “Caso não haja uma recomposição do orçamento das Instituições Federais de Ensino Superior, a Ufal deverá conviver com essa situação ainda nos próximos anos, tendendo ao sucateamento e ao risco de interdição de outras edificações”.