Dia da Visibilidade Trans: avanços e desafios na Universidade de Alagoas

No dia 29, 19h, tem roda de conversa no pátio do Ichca

Por Lenilda Luna - jornalista
- Atualizado em 29/01/2025 16h35

Nesta quarta-feira, 29 de janeiro, celebra-se o Dia da Visibilidade Trans no Brasil, uma data que marca a luta por reconhecimento, respeito e igualdade para pessoas transgêneras. Criada em 2004, a data marca a luta no Congresso Nacional para dar visibilidade às reivindicações da população travesti e trans brasileiras e busca conscientizar a sociedade sobre os desafios enfrentados por essa população.

Nesta quarta-feira (29), às 19h30, o Diretório Acadêmico de História (Dahis) convida o GEPHGS para debater o tema Os desafios para a permanência de travestis e pessoas trans na Universidade, no Pátio do Instituto de Ciências Humanas, comunucação e Artes (Ichca), no Campus A.C.Simões da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió.

Na Ufal esse movimento tem ganhado força com a implementação de políticas que visam assegurar os direitos e ampliar a visibilidade das pessoas trans. Entre essas iniciativas, está a possibilidade de uso do nome social em documentos oficiais, como registros acadêmicos, carteiras de identificação estudantil e listas de chamada.

Essa medida foi implementada na Ufal a partir de agosto de 2016, após resolução aprovada no Conselho Universitário (Consuni). Naquele período, a medida foi bastante comemorada, porque além de respeitar a identidade de gênero, representa um importante passo contra a discriminação e o preconceito. A Ufal foi, na época, a sexta universidade federal do Brasil a aprovar o uso do nome social.

Outro marco significativo foi a ampliação de programas de assistência estudantil, que incluem atendimento psicossocial especializado, com foco em oferecer suporte às demandas específicas de estudantes trans. As normativas também continuaram a ser atualizadas, e, em 2022, a Resolução de Cotas Ações Afirmativas na pós-graduação da Ufal incluiu a população transgênero.

Mas a comunidade acadêmica busca ampliar as conquistas. No último dia 20, durante a solenidade de recepção aos calouros e calouras, um grupo de estudantes entrou no auditório com cartazes, solicitando a aprovação das cotas também para a graduação. O palestrante, jornalista Carlos Madeiro, abriu espaço para uma pessoa explicar a manifestação. “Nós fazemos parte de uma população marginalizada, que também tem direito à reparação e à garantia de espaços sociais”, disse Cris, estudante de Psicologia.

A conquista do diploma

Diante de tantas dificuldades e preconceitos ainda enfrentados pela população transgênero, manter-se na Universidade é um desafio. Por isso, as primeiras colações de grau de estudantes trans foram comemoradas como uma conquista da comunidade acadêmica. Em dezembro do ano passado, duas pessoas trans concluíram os respectivos cursos na Ufal: Thomas Noah Tysaj da Conceição Silva, do curso de licenciatura em Educação Física, e Diana Maria Justino de Souza, em Jornalismo

No Instituto de Educação Física e Esporte (Iefe), a participação de Thomas na Colação de Grau Social foi celebrada como um dia histórico. “Thomas é um homem trans que viveu a sua transição de gênero durante o período dos seus estudos na universidade e enfrentou todos os desafios impostos pela sociedade heteronormativa que pouco ou nada acolhe pessoas como ele”, ponderou o professor Silvan Santos.

Para o docente, não foi apenas um marco vitorioso pessoal do estudante, mas também para a unidade acadêmica. “Este feito é uma ruptura com muitos marcadores sociais da desigualdade no país. A formação superior de Thomas Silva é um fenômeno anti-estatístico. Apesar de a Ufal estar desenvolvendo movimentos de acolhimento e garantia de direitos à população trans nos últimos anos, as pessoas trans na maioria das vezes não chegam até o final do curso”, alertou.

Silvan refere-se à nota da Agência Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), publicada em 2020 e atualizada em 2022, ressaltando que, de acordo com informações sobre a situação educacional das pessoas trans, estima-se que cerca de 70% não concluiu o ensino médio e que apenas 0,02% encontram-se no ensino superior. “Portanto, a colação de grau de Thomas é uma disruptura com a estrutura nacional”, reafirmou o professor.

Thomas defendeu o trabalho de conclusão de curso, em março de 2024, com o título Saberes da experiência de um estudante em transição de gênero na formação em Educação Física (EF): uma narração autobiográfica. Com a orientação do professor Silvan, o estudante realizou uma pesquisa do tipo autobiográfica, descritiva, com abordagem qualitativa dos achados.

Ainda em dezembro de 2024, a Ufal formou a primeira mulher travesti no curso de Jornalismo. Diana Maria Justino de Souza graduou-se depois de apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)) apresentado um ensaio sobre a vivência dela com a população de rua de Maceió, Intitulado Quem sou eu, Sinimbu?, sob a orientação da professora Magnólia Rejane Martins.

Na ocasião da formatura, Diana, a única da família dela a conquistar um diploma de nível superior, deu um depoimento emocionante. “Foram seis anos de muita luta, batalhas vencidas mesmo com lágrimas derramadas. Alcei um pequeno voo em minha vida que me levará muito além. Agora sou bacharela formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas”, comemorou.

A importância do Dia da Visibilidade Trans

O Dia da Visibilidade Trans foi instituído a partir de uma campanha realizada em 2004, liderada por ativistas trans, que buscavam mostrar a presença e a luta dessa população. Desde então, a data é celebrada em todo o país com manifestações, eventos e atividades que ressaltam a importância do respeito à diversidade e aos direitos humanos.

Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), pessoas trans continuam enfrentando altos índices de violência e exclusão social, sendo o Brasil um dos países que lidera as estatísticas de assassinatos de pessoas trans. Nesse contexto, a visibilidade é uma ferramenta essencial para combater preconceitos e promover a inclusão em todas as esferas da sociedade.

Seguir ampliando direitos

Apesar dos avanços, ainda há desafios significativos para garantir que pessoas trans tenham acesso pleno à educação superior. A permanência universitária pode ser dificultada por barreiras financeiras, discriminação e falta de representação. Nesse sentido, ampliar as políticas de apoio e fortalecer a conscientização da comunidade acadêmica são passos fundamentais.

O professor da Ufal, Elias Veras, tem se destacado nas discussões sobre a história LGBTQIAPN +s. Por meio de um trabalho coletivo com estudantes, ele já organizou várias atividades promovidas pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Gênero e Sexualidade (GEPHGS) da Universidade, com o objetivo de historicizar e problematizar a transfobia presente na universidade e na sociedade em geral.

Elias Veras é autor de diversas publicações que abordam questões relacionadas à visibilidade e performatividade de gênero. Entre elas, destaca-se o capítulo Travestis: visibilidade e performatividade de gênero no tempo farmacopornográfico, presente no livro História do Movimento LGBT no Brasil e o livro Travestis: carne, tinta e papel (Appris,2019), resultado da sua tese de doutorado, defendida em 2015, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Para o professor, promover debates e pesquisas que contribuam para a visibilidade e os direitos da comunidade LGBTQIAPN , especialmente da comunidade trans, deve ser um compromisso da comunidade universitária. “A melhor forma de superar preconceitos é disseminar conhecimento. Nesse sentido, perceber o quanto estudantes trans e travestis, apesar de toda a transfobia, estão construindo e protagonizando suas histórias, é revelador de que a universidade”, destacou Veras.

Ele enfatiza que a Universidade, ainda predominantemente cisnormativa e transfóbica, está no movimento de mudança. “Em recente coletânea organizada pelo GEPHGS, quatro estudantes trans publicaram capítulos sobre as experiências trans em Maceió, mostrando que o protagonismo trans na construção de narrativas de si é um processo acadêmico, mas, sobretudo, político”, concluiu Veras.

Nesta quarta-feira (29), às 19h30, o Diretório Acadêmico de História (DAHis) convida O GEPHGS para debater o tema Os desafios para a permanência de travestis e pessoas trans na Universidade, no Pátio do Ichca.

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.