Ufal entrega título de Doutora Honoris Causa à professora Cida

Cerimônia marcada por muita emoção destacou a história de Maria Aparecida Batista de Oliveira e sua defesa pela representatividade da mulher e contra o racismo

Por Maria Villanova – estudante de Jornalismo - Fotos Renner Boldrino
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Professora Cícera Albuquerque e o reitor Josealdo Tonholo celebram a homenageada Maria Aparecida Batista, a mais nova Doutora Honoris Causa
Professora Cícera Albuquerque e o reitor Josealdo Tonholo celebram a homenageada Maria Aparecida Batista, a mais nova Doutora Honoris Causa

Em uma cerimônia emocionante, Maria Aparecida Batista de Oliveira, a professora Cida, tornou-se a mais nova Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O título concedido pelo Conselho Universitário (Consuni), entregue na última segunda-feira (17), reconhece a história de vida profissional da homenageada, marcada por sua luta contra o racismo e em defesa da mulher, além de sua atuação na educação e nas áreas de direitos sociais, equidade de gênero, respeito às minorias e justiça social.

Com auditório repleto de ex-alunos, alunos, professores, admiradores, familiares, autoridades e amigos, a solenidade de entrega do título foi conduzida pelo reitor Josealdo Tonholo, presidente do Consuni, e contou com a presença de dois reitores honorários da Ufal, a professora Ana Dayse Dorea e o professor Rogério Pinheiro, que compuseram a mesa de honra. A homenagem à professora Cida foi uma iniciativa conjunta do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Ufal e mais quatro unidades acadêmicas: o Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (Ichca), ao qual o curso de Filosofia é vinculado, o Instituto de Psicologia (IP), a Escola de Enfermagem (Eenf) e o Instituto de Ciências Sociais (ICS).

“Não esperava, fiquei surpresa com a homenagem. Sou uma profunda apaixonada pela Ufal, e este título vem de uma via de mão dupla, de reciprocidade, pela minha dedicação à Universidade, e pelas minhas pautas, como a implementação da política de cotas, um avanço significativo da política de reparação com a população negra, a interiorização do ensino e a implementação dos cursos noturnos, para abraçar o trabalhador que deseja estudar”, contou Maria Aparecida.

Professora recém-aposentada do curso de Filosofia, com mais de 45 anos de dedicação à instituição, Maria Aparecida assumiu várias missões, entre elas, foi coordenadora do Núcleo Temático Mulher e Cidadania da Ufal e representou a Universidade no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher (Cedim), que presidiu entre 2005 e 2009. Além da defesa da mulher, sua atuação e seu compromisso com a dignidade e o bem-estar do ser humano foram pontos que marcaram sua carreira acadêmica. 

Seguindo o protocolo da cerimônia, a professora Cida foi conduzida pelas conselheiras do Consuni, Sandra Nunes, diretora do Ichca; Luciana Santana, diretora do ICS; Maria Cícera Albuquerque, diretora da Eenf; e Maria Auxiliadora Ribeiro, vice-diretora do IP; e ficou posicionada em local de destaque na cerimônia. Ao ser indagada pelo reitor Tonholo sobre o aceite do título, Maria Aparecida não segurou a emoção: disse sim e foi aplaudida de pé.

Antes dos discursos e da entrega do diploma e das vestes talares à homenageada, alunos e alunas da Faculdade de Medicina fizeram uma surpresa à professora Cida. Com a bateria Tiroteio, eles que se apresentaram e levaram muita percussão e gingado para a cerimônia.

Trajetória da professora Cida

As quatro representes das unidades acadêmicas proponentes do título exaltaram a trajetória da professora Cida, de força, coragem e luta. Sandra Nunes ressaltou que os ensinamentos da homenageada reverberam ainda hoje na Universidade: “Mesmo retirando-se de cena, deixa muito de suas marcas aqui na Ufal, e na sociedade alagoana, intensificando processos de mudanças, sendo um grande símbolo de liberdade, resistência e luta, tal qual Acotirene e Aqualtune”, reforçou.

A professora Maria Auxiliadora relembrou a participação da homenageada na consolidação do curso de Psicologia, e seu papel revolucionário no movimento feminista de Alagoas, além das contribuições na garantia dos direitos de estudantes, técnicos, professores e minorias. “Você não ensinou apenas filosofia aos estudantes. Você é uma pessoa extremamente ética que nos ensina e nos inspira a assumir uma postura ética também”, destacou.

Emocionada, Luciana Santana destacou a importância da professora Cida na implementação de políticas inclusivas e a sua dedicação aos movimentos sociais, à democracia e aos direitos humanos. “Sua solidariedade era constante, seu engajamento inabalável. Cida esteve presente nas grandes lutas sociais e sindicais, e também atenciosa nas histórias cotidianas dos humildes, graças à sua sensibilidade rara”, ressaltou.

Já Maria Cícera Albuquerque relembrou as origens palmarinas de Maria Aparecida, comparando-a a Dandara de Palmares. “Enquanto Dandara lutava por liberdade e resistência, protegendo o quilombo, Cida sempre buscou libertar mulheres, vítimas da violência, do preconceito, e lutando pelo acesso ao ensino superior e pela sua qualidade. E hoje, ao conceder-lhe este título, a universidade inscreve em sua memória institucional, registra e reconhece que esta mulher negra, filósofa, educadora, pesquisadora, militante e cuidadora, fez toda a diferença em nossa instituição”, finalizou.

Discurso panegírico

A mestra em Antropologia, Jéssyka Faustino, integrante do Neabi, fez o discurso panegírico, enaltecendo a contribuição da professora Cida na formação de milhares de alunos e alunas, que a viram como um exemplo. “Encontrá-la em sala de aula foi um acontecimento ancestral, ver que a Universidade poderia ter o meu rosto, o meu tom de pele. E não fui só eu. Centenas de jovens negros, quilombolas, indígenas, que quando chegaram aqui enxergaram nela não só uma professora, mas um espelho, de que eles aqui pertenciam, podiam e de quem eram. Hoje, falo aqui com a emoção necessária em nome da mulher que me ensinou que esse espaço é nosso. E sempre foi”, assegurou.

Em seu discurso, a professora Cida fez uma retrospectiva de sua trajetória de vida, desde sua infância até chegar ao cargo de professora da Ufal, uma instituição que tem seu coração, memória e afeto. Saudando antepassados, celebrando sua ancestralidade e destacando que o ambiente acadêmico deve ser de todos, a homenageada terminou seu discurso recitando a música “Samba de Utopia”, enaltecendo a democracia e falando seu tradicional “Axé!”.

Finalizando a cerimônia, o Reitor Josealdo Tonholo fez uma metáfora sobre o legado da professora Cida, comparando seu trabalho com sementes que foram sendo plantadas e cultivadas em cada discurso, gesto e aula. “Agradeço também por sua amizade, por compartilhar suas experiências e por permitir que elas fortaleçam essa jornada, o seu amor e dedicação à Universidade são evidentes. Obrigado por ser quem é”, concluiu.

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