Legado na educação: Ufal comemora 70 anos do curso de Pedagogia

Criado em 1955, curso se tornou referência regional, ampliou o acesso à formação docente e acompanha, até hoje, os rumos da educação pública em Alagoas

Por Maria Villanova – estudante de Jornalismo / Fotos: Renner Boldrino
- Atualizado em

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) celebra, em 2025, os 70 anos do curso de Pedagogia. Um marco histórico que mostra a força da instituição na área da educação e da formação profissional, acompanhando as mudanças na área, na sociedade e contribuindo para uma base educacional forte em Alagoas, no Brasil e no mundo, ao formar profissionais que atuam em diversas áreas.

Ao longo de sete décadas, a formação em Pedagogia na Ufal acompanhou as transformações sociais do Brasil. Desde a expansão do acesso à educação básica, entre 1960 e 1970, até a universalização do ensino fundamental nas décadas seguintes, houve mudanças e abertura de novas abordagens pedagógicas, atualização curricular e fortalecimento da formação docente, preparando profissionais aptos a compreender e intervir em contextos educacionais marcados por desigualdades históricas.

Com a redemocratização e a promulgação da Constituição de 1988, que estabeleceu a educação como direito de todos, o curso de Pedagogia tornou-se mais central ao propor a criação de políticas públicas, ampliação da educação infantil e uma formação mais crítica. E com a chegada de novas tecnologias, interiorização da Universidade e novas perspectivas locais, nacionais e internacionais, o curso se moldou mais uma vez.

Para comemorar os 70 anos, alunos e professores estão em uma grande mobilização de resgate de acervos históricos, como documentos, imagens e fotografias. Responsável pela coordenação, o professor Ivanildo Gomes faz um grande planejamento sobre as celebrações: “Estamos trabalhando em uma grande comemoração a ser realizada no começo do próximo semestre letivo. O evento reunirá todos os que fizeram parte da história do curso: professores aposentados, professores em atividade, estudantes e egressos”, contou

Marco fundador da Ufal

A história do curso de Pedagogia se inicia antes mesmo da fundação do Campus A.C. Simões, quando, a partir da criação da antiga Faculdade de Filosofia de Alagoas no início da década de 1950, por iniciativa do padre e educador Teófanes Augusto de Araújo Barros, surgiu a primeira possibilidade concreta de formação superior para educadores no estado. Em 1955, com a autorização oficial, foram criados os cursos de Pedagogia e Didática, marcando o nascimento formal da Pedagogia como curso de graduação em Alagoas.

À época, a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, responsável por formar os primeiros bacharéis em Letras, História, Geografia e Filosofia no estado, assumiu também a responsabilidade de diplomar profissionais para atuar na área educacional. Em 1961, essa Faculdade se tornou uma das unidades fundadoras da Universidade de Alagoas, que, ao federalizar-se, passou a ser denominada Universidade Federal de Alagoas.

Nos primeiros anos como Ufal, o curso de Pedagogia permanecia vinculado à Faculdade de Filosofia e atuava tanto na formação de pedagogos quanto na preparação pedagógica dos demais licenciados. Além de qualificar docentes para o ensino secundário, o curso regularizava a formação de profissionais que já lecionavam sem habilitação superior, acompanhando um período de forte expansão da escolarização no país.

A reforma universitária de 1968 reorganizou a área de educação, que passou a constituir a Faculdade de Educação, responsável pela formação dos profissionais do setor dentro do esquema “3 + 1”. Nesse processo, o curso foi reestruturado e, com a Resolução 02/69 do Conselho Federal de Educação, adotou habilitações específicas em Supervisão Escolar, Orientação Educacional, Administração Escolar e Inspeção Escolar.

Na década de 1970, o modelo de habilitações se consolidou, passando a definir inclusive o ingresso dos estudantes, matriculados diretamente na área escolhida. Também foi criada a habilitação de Magistério, dedicada ao ensino em cursos pedagógicos de 2º Grau, embora com pouca adesão. Nesse período, as funções dos especialistas em educação ganharam destaque nas políticas públicas, ampliando o mercado de trabalho para Supervisão e Orientação, fortalecendo a presença dos pedagogos da Ufal nas redes escolares do estado.

Também na década de 70, uma nova reforma institucional levou à criação dos centros na Ufal, reorganizados em departamentos e colegiados. A antiga Faculdade de Educação transformou-se no Departamento de Educação, integrando o Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA). Nas décadas seguintes, o crescimento da demanda por formação docente e a ampliação das ações acadêmicas impulsionaram a criação do Centro de Educação (Cedu), unidade que desde então sustenta e projeta o curso de Pedagogia como referência regional na formação docente e no desenvolvimento das políticas educacionais em Alagoas.

“O curso de Pedagogia é de suma importância para o Centro de Educação, é o seu fundamento, já que ele surge a partir desse curso. Então não é errado dizer que o Cedu, hoje, existe graças à Pedagogia, atendendo também a diversos outros cursos e contribuindo diretamente para a sociedade, formando profissionais para o Brasil inteiro”, ressaltou Jordânia Souza, vice-diretora do Cedu.

Transformação, pioneirismo, expansão e adaptação

As mudanças ocasionadas a partir da década de 70 e com a redemocratização do país, trouxeram novas perspectivas para o curso. A pedagogia deixou de ser vista apenas como uma “licenciatura para professor” tradicional, passando a incorporar uma formação ampla, crítica, capaz de atender demandas sociais, culturais e educacionais mais complexas.

Uma mudança marcante ocorreu em 1998, quando o Cedu implantou o curso de Pedagogia na modalidade a distância (EaD), por meio da extensão Programa de Assessoria Técnica aos Municípios Alagoanos (Promual). A proposta era oferecer formação superior a professores da rede pública que não tinham diploma universitário. A modalidade de ensino se desenvolveu e, no ano de 2002, a Ufal se credenciou para a oferta de cursos a distância, por meio da Portaria nº 2.631, do Ministério da Educação (MEC).

A Pedagogia EaD, além de ampliar o acesso e democratizar a formação, auxiliou na conexão entre a Ufal e municípios distantes de Maceió e contribuir para elevar o nível de formação docente no interior do estado. Um marco, relembrado pelo professor Eraldo Ferraz, coordenador do curso durante 10 anos. “Fomos pioneiros na educação a distância, com a Pedagogia EaD fundada em 1997 e em atividade até hoje, quando firmamos convênios com 62 municípios alagoanos. Eu tive a honra de ser professor deste curso e organizar a formatura para mais de 150 concluintes que aconteceu no Ginásio de Esporte da Ufal. Decorei tudo, ficou um deslumbre, e todos os formandos emocionados”, rememorou.

O crescimento da Universidade e a expansão das necessidades educacionais fizeram com que o curso  também se tornasse a base organizacional de múltiplas licenciaturas e projetos formativos no Cedu, funcionando como graduação, além de formar docentes por toda a universidade. “Temos estudantes matriculados por ter três turnos em funcionamento, além da EaD. É uma unidade muito grande que atende também outras 17 licenciaturas, com setores distribuídos, em um grande desafio”, contou a professora Mônica Sales, coordenadora atual do curso.

Maior curso da Ufal

Atualmente, o curso de Pedagogia conta com uma estrutura ampla, com salas, biblioteca própria com computadores de livre acesso, laboratórios (utilizados por vários cursos), fraldário e até uma brinquedoteca utilizada em alguns projetos de extensão e onde se estuda, futuramente, ser um espaço para auxiliar alunas que são mães.

É o maior curso da Ufal, oferecendo 240 vagas no Sisu 2026.1, com vagas para todos os turnos, 40 por semestre, só para o campus A.C. Simões. Se considerar também os cursos dos outros campi, serão mais 90 vagas para o segundo semestre - 40 para o Campus Arapiraca e 50 para o Campus do Sertão.

Também é o curso com o maior número de pessoas com deficiência (PcD), tendo inclusive um Núcleo de Acessibilidade próprio, coordenado pela professora Janayna de Souza, e que auxilia estudantes como José Antônio da Silva Filho, PcD visual, que vê na formação um novo caminho:

“Sofri um acidente aos seis anos e tive minha trajetória escolar interrompida, sendo alfabetizado pela Educação de Jovens e Adultos. Em 2023, realizei o Enem, apenas para vivenciar, mas consegui uma boa nota e estou extremamente satisfeito com o curso. Superou minhas expectativas. Apesar de algumas dificuldades, a maioria dos colegas é acolhedora. A experiência é gratificante e pretendo, um dia, trabalhar com educação especial”, contou.

Muitos estudantes observam na Pedagogia novas perspectivas, optando como uma segunda formação ou como uma complementação ao ensino. É o caso de Maya Rodrigues, que, bacharel em Publicidade e Propaganda, vem alcançando seus objetivos profissionais: “Depois de concluir outra graduação e me sentir sem perspectivas, decidi fazer Pedagogia para buscar caminhos diferentes na educação, explorar metodologias inovadoras e pensar soluções para problemas que nos atravessam como sujeitos. Ainda não sei exatamente onde vou atuar, mas tenho aproveitado as oportunidades para conhecer possibilidades, contou Maya.

Ela também é prova da integração do curso com outras áreas. Hoje, atuando como bolsista no projeto “Mar à Vista”, ligado ao Instituto de Ciências Biológicas e de Saúde (ICBS), Maya usa de seu aprendizado obtido dentro da Pedagogia para o desenvolvimento de cartilhas educativas e ações sociais, que levam a grandes experiências:

“Auxiliei no desenvolvimento do projeto ‘Os Encantos da Caatinga’ e pude conhecer o Sertão alagoano, uma experiência incrível proporcionada muito pelo meu aprendizado no curso. Em 70 anos, a educação brasileira mudou muito e seguirá mudando, e desejo que o curso continue acompanhando essas transformações e formando pessoas comprometidas com melhorias na educação”, finalizou.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável