Pesquisa investiga fatores sociais e genéticos associados à hanseníase

Diagnóstico tardio pode levar a incapacidades e deformidades físicas

Por Diana Monteiro - jornalista - Fotos: Renner Boldrino
- Atualizado em 25/03/2025 15h24
Professores Dalmo Azevedo, Carolinne Marques e discentes de doutorado Karla Nogueira, Heloísa Almeida e Allan Costa
Professores Dalmo Azevedo, Carolinne Marques e discentes de doutorado Karla Nogueira, Heloísa Almeida e Allan Costa

Um estudo que está sendo desenvolvido pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) investiga a relação entre fatores socioeconômicos e ancestralidade genética como potenciais determinantes da hanseníase e suas formas clínicas. A pesquisa, iniciada em janeiro deste ano, é coordenada pela professora Carolinne de Sales Marques, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), no Campus A.C. Simões.

O projeto tem como objetivo principal avaliar como fatores sociais e genéticos influenciam o risco de desenvolvimento da hanseníase na população de Alagoas e do Nordeste brasileiro. Aprovado no final de 2024 na Chamada CNPq/DECIT/MS Nº31/2024 – Apoio a projetos de PD&I em Doenças Determinadas Socialmente, a pesquisa conta com a participação de instituições nacionais, como Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade do Vale do São Francisco (Univasf). Também há colaboração internacional com a pesquisadora Ohanna Cavalcanti de Lima Bezerra, da Dalla Lana School of Public Health, na Universidade de Toronto, no Canadá.

A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa e crônica, cuja origem é apresentada em relatos históricos, e é considerada uma das mais antigas que acometem o ser humano. Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, sua transmissão ocorre principalmente por contato direto e prolongado pelas vias aéreas, sendo o ser humano o principal reservatório da doença.

A enfermidade afeta, sobretudo, os macrófagos da pele e o sistema nervoso periférico, provocando alterações sensoriais nas áreas lesionadas. Quando não diagnosticada precocemente, pode levar a incapacidades e deformidades físicas. Entre os principais sintomas estão: manchas na pele com perda de sensibilidade; fraqueza em mãos, pés e pálpebras; deformidade da mão em garra; inchaços ou caroços no rosto, orelhas ou nariz; e feridas indolores nas mãos e pés.

Hanseníase no Brasil e em Alagoas

De acordo com a professora Carolinne Marques, apesar dos esforços do Ministério da Saúde (MS), o Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de casos de hanseníase, atrás apenas da Índia. No Nordeste, a taxa de detecção de novos casos aumentou de 13,30 por 100 mil habitantes em 2020, para 16,25 em 2022, superando a média nacional (8,49 para 9,67 no mesmo período). O estado de Alagoas segue essa tendência, com um crescimento de 6,50 para 8,92 casos por 100 mil habitantes entre 2020 e 2022.

“Embora a taxa a taxa geral de detecção de casos novos da doença no estado esteja abaixo da média nacional, a distribuição da doença não é homogênea. Há microrregiões de hiperendemicidade em municípios como Arapiraca, União dos Palmares e Santana do Ipanema. A hanseníase continua sendo uma doença negligenciada e de grande impacto social”, explicou a docente, mestre e doutora em Biologia Celular e Molecular e pós-doutora em Genética Humana. No ICBS da Ufal, ela ministra as disciplinas Genética Geral e Genética Molecular, para turmas do curso de Ciências Biológicas, e Genética Humana, para turmas da graduação em Enfermagem.

A professora ressalta que os dados coletados no estudo contribuirão para a formulação de estratégias no âmbito da iniciativa Uma Só Saúde, que busca fortalecer ações de vigilância, comunicação e promoção da saúde. Além disso, um dos objetivos do projeto é a capacitação de estudantes de graduação e pós-graduação para atuar no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Além disso, a execução do estudo fortalecerá a rede de pesquisa entre instituições de diversos estados, como Alagoas, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, visando à busca por soluções de um grande problema de saúde pública no Brasil. Com o fortalecimento dessas equipes, estaremos contribuindo para o desenvolvimento regional mais equilibrado, habilitando e aprimorando as competências existentes nas instituições. Nosso foco é desenvolver soluções para esse grave problema de saúde pública e, ao mesmo tempo, impulsionar o desenvolvimento científico regional”, enfatizou Carolinne.

Contribuição científica

O estudo busca esclarecer se a ancestralidade genética influencia a suscetibilidade à hanseníase no Nordeste, além de identificar quais fatores socioeconômicos representam risco para a doença. Os resultados serão divulgados em publicações científicas e de divulgação popular, ampliando o conhecimento sobre o tema. “Queremos entender como as condições socioeconômicas afetam o acesso à assistência em saúde e de que forma elas interferem no diagnóstico e tratamento da hanseníase”, destacou a pesquisadora.

Ainda sobre a contribuição científica do projeto para o conhecimento da hanseníase e a importância do estudo para a sociedade, a pesquisadora destaca: “Esperamos elucidar se a ancestralidade genética pode ser um fator de risco para a hanseníase na Região Nordeste e que os resultados possam ampliar a compreensão de como a genética facilita a suscetibilidade à doença. Além disso, verificar quais fatores socioeconômicos serão considerados fatores de risco para a doença na população nordestina e como as classes sociais dificultam o acesso à assistência em saúde”.

Carolinne revela que a abordagem interdisciplinar do estudo tem potencial para reduzir, mitigar a negligência relacionada à hanseníase e contribuir para a diminuição da vulnerabilidade de populações afetadas.

Com conclusão prevista para 2027, a pesquisa está estruturada nas seguintes fases: identificação dos fatores de risco socioeconômicos; análise de tendências temporais; preparação de amostras para estudo de ancestralidade genética; recrutamento de casos e controles e extração de DNA; análises estatísticas; desenvolvimento de um modelo preditivo; e ações de extensão e divulgação científica.

Atualmente, o estudo está concentrado na identificação dos fatores de risco socioeconômicos e no recrutamento de participantes para extração de DNA.

Colaboração

Na Ufal, a pesquisa conta com o apoio do Laboratório de DNA Forense, além de parcerias com o Laboratório de Biologia Molecular e Expressão Gênica (Labmeg), no Campus Arapiraca, e o Laboratório de Biologia Celular (LBC). Também também são parceiros e colaboram com o projeto unidades de saúde como o 11º Centro Dr. Diógenes Jucá Bernardes e o PAM Vergel do Lago, em Maceió, além do Centro de Referência Integrado de Arapiraca (Cria).

A equipe da pesquisa é composta por alunos de graduação e pós-graduação do ICBS, além de pesquisadores de outras instituições. Entre os colaboradores estão professores da Ufal, da Univasf e da Fiocruz-RJ, além de profissionais técnicos. São eles: Jennifer Lorrane de Araújo Souza e Nicolly de Brito Moura, alunas do bacharelado, e Tiago Santos da Silva, da licenciatura. Da pós-graduação, os pesquisadores Allan Ribeiro Reis Scharf Costa, Heloisa de Almeida Freitas, Karla Regina Celestino Nogueira e Vanderson Ferreira. 

O projeto conta ainda com a colaboração dos docentes da Ufal: Emiliano de Oliveira Barreto, Carlos Alberto de Carvalho Fraga, Fabiane da Silva Queiroz, Dalmo Almeida de Azevedo, Michael Ferreira Machado, Amanda Karine Barros Ferreira Rodrigues, Victor Menezes Cardoso e Jussara Almeida de Oliveira Baggio. 

Das instituições parceiras nacionais, são colaboradores os docentes da Universidade Federal do Vale São Francisco (Univasf), Carlos Dornels Freire de Souza e Rodrigo Feliciano Carmo, e a discente de doutorado da Fiocruz-RJ, Laís Bento. A pesquisa conta com a parceria técnica do servidor Lucas Ribeiro Gomes.

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