Com sistema próprio de abastecimento de água, Ufal vai economizar R$ 20 mi ano

Projeto implantado no Campus A.C. Simões, em Maceió, também prevê tratamento de esgotamento sanitário próprio

Por Graça Carvalho – jornalista / Fotos Renner Boldrino
- Atualizado em 30/05/2025 16h19
Professora Nélia Calado, coordenadora-geral do projeto
Professora Nélia Calado, coordenadora-geral do projeto

O Campus A.C. Simões ganhou um sistema próprio de abastecimento de água, com projeto idealizado a várias mãos, por profissionais da “casa”. Está funcionando juntamente com o sistema de tratamento de esgotamento sanitário, que já foi recuperado, e, com isso, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vai economizar mais de R$ 20 milhões por ano.

O projeto do sistema de abastecimento de água foi concebido por uma equipe de servidores da Ufal: a professora Nelia Callado, o professor Vladimir Caramori, e a professora Daysy Lira, todos do Centro de Tecnologia (Ctec). Também contou com a atuação do engenheiro Diogo Henrique, da Pró-reitoria de Infraestrutura (Proinfra).

O sistema custou aos cofres da Ufal R$ 1.191.580,11, incluindo os três poços artesianos, os quatro reservatórios, com capacidade total para armazenar 100 mil litros de água, além da complementação da rede para interligação com a antiga. “O valor estimado para a manutenção anual é de R$ 350 mil”, detalhou Felipe Paes, pró-reitor de Infraestrutura, órgão responsável pela instrução do processo licitatório, gestão e fiscalização dos contratos de execução dos serviços.

Segundo Paes, para se ter uma ideia da importância da autonomia conquistada, em março de 2024, a Ufal pagou quase R$ 2 milhões à concessionária BRK, sendo 50% desse valor referente à água e a outra metade, ao esgoto. Com o novo sistema de abastecimento próprio, via poços artesianos, e a recuperação do sistema de tratamento de esgotamento sanitário, o pró-reitor estima que a economia será da ordem de R$ 20 milhões por ano.

Na avaliação do professor Caramori, que também é diretor do Ctec, o aspecto financeiro é mesmo impactante, uma vez que há uma economia muito substancial para um orçamento um tanto estrangulado, mas não só isso. Ele ressalta que 20 mil pessoas, praticamente uma cidade, vão ser atendidas, e os alunos, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação, passam a ter um laboratório de formação, de treinamento, de capacitação.

“É um verdadeiro laboratório vivo”, resumiu Nélia Calado, coordenadora-geral do projeto. Ela e os demais idealizadores seguem prestando consultoria técnica na rede. Segundo a professora, o projeto tem todas as Anotações de Responsabilidade Técnica (ARTs) exigidas pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de Alagoas (Crea-AL), e os poços artesianos possuem outorga e licença da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh-AL).

De volta ao passado

Quem frequentou o Campus A.C. Simões, durante a década de 1970 e até meados dos anos 1990, consumia água de um sistema de abastecimento da própria Ufal, a partir de poços de águas subterrâneas. Os docentes, Caramori e Nélia Calado, lembram detalhes de como esse tempo de autossuficiência foi interrompido.

De acordo com eles, isso aconteceu quando a então Companhia de Abastecimento D’Água e Saneamento do Estado de Alagoas (Casal) chegou à região, propôs a instalação do reservatório do Sistema Pratagy, no estacionamento do Hospital Universitário, para abastecimento de água da Universidade e do entorno.

Depois disso, foram firmados vários acordos entre a Ufal e a Casal, sendo o último deles o Contrato de Demanda nº 25/2015, prevendo tarifa diferenciada para a Universidade. Em julho de 2021, a Casal deixou de realizar distribuição de água em toda a região metropolitana de Maceió e entorno, por conta do processo de privatização [leilão realizado em 2020], que entregou o abastecimento à empresa BRK.

“A partir daí, a BRK simplesmente ignorou os termos de contratos firmados centre a Casal e a Ufal, bem como, as inúmeras tentativas de negociação”, relembrou Caramori. Foi a partir daí que a Universidade se viu obrigada a concentrar a sua força de trabalho em um sistema que possibilitasse a sua autossuficiência em produção de água.

Mais ou menos na mesma época, representantes da empresa Saneamento Alta Maceió (Sanama) e da Ufal, iniciaram reuniões mediadas pela Casal, para discutir a passagem de um coletor tronco por dentro do campus. Isso serviria para construção de um novo sistema de esgotamento sanitário, destinado à parte alta de Maceió.

Em janeiro de 2022, uma Comissão de Assessoramento criada pelo reitor da Ufal, professor Josealdo Tonholo, por meio da Portaria nº 36, com a participação de servidores da Superintendência de Infraestrutura (Sinfra) – atual Proinfra –, do Ctec, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Feac), da Pró-reitoria de Gestão Institucional (Proginst), do Gabinete da Reitoria (GR) e do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HU). Esse grupo fez a avaliação de viabilidade técnica e econômica dos dois sistemas.

Em março do mesmo ano, Tonholo autorizou a assinatura de um Termo de Cessão Onerosa entre a Universidade e a Casal, para a passagem do coletor-tronco, o que resultou, como contrapartida, na revitalização do sistema de esgotamento sanitário do campus. “Então, foram duas coisas que correram em paralelo: o sistema de abastecimento de água e o sistema de esgotamento sanitário”, destacou Camarori.

Para a professora Nélia, o grande desafio, é deixar o sistema funcionando na sua plenitude, “Para isso, a gente tem feito um trabalho de campo intenso, de controle de pressão e de controle de vazão”, afirmou.

A rede antiga de abastecimento próprio tinha mais de 50 anos e, por isso, houve a necessidade de revisão agora que a autossuficiência está sendo resgatada. Portanto, no início de adaptação do novo sistema, ocorreram rompimento de canos e estouro de válvulas, entre outras ocorrências, que causaram comprometimento ao funcionamento regular do campus. Agora, a situação vem sendo controlada.

Além de Maceió, a Ufal pode ter sistemas semelhantes, independentes, autônomos, implantados nos outros campi, mas, necessariamente, não vai ser por meio da mesma alternativa adotada para o Campus A.C. Simões. Para cada local – Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca), em Rio Largo; Campus Arapiraca e Campus do Sertão, em Delmiro Gouveia –, é necessário um estudo para verificação da melhor alternativa para se implantar um sistema independente de abastecimento de água.




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