Turma de Nutrição conclui 2ª fase de pesquisa sobre venda de orgânicos
Eles entrevistaram quatro empresas com a finalidade de divulgar o serviço em Maceió
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A Universidade Federal de Alagoas não pára. Mesmo com aulas remotas, muitas ações estão sendo feitas dentro e fora dos cursos. É o caso da turma do curso de Nutrição, que, ano passado, na disciplina Nutrição em Saúde Pública, fez uma pesquisa para comparar os preços de alimentos vendidos em feiras agroecológicas com os de supermercados em Maceió. Agora, os alunos buscaram conhecer os agricultores e empreendedores rurais e entender como ocorre a produção, o plantio e o transporte dos alimentos orgânicos.
A ideia que se tem é de que esses produtos geralmente são mais caros que os produtos provenientes da agricultura convencional, no entanto, os estudantes perceberam que nas feiras de produtores agroecológicos os produtos são mais baratos do que nos supermercados.
Segundo a professora Giovana Longo, coordenadora da disciplina, a pesquisa representou um importante passo para demonstrar à população a disponibilidade e o acesso a uma alimentação mais saudável no município. Agora, os estudantes, que estão em seu segundo semestre de Nutrição em Saúde Pública, deram mais um passo e, entrevistaram quatro empresas/feiras de produtores que realizam a venda e a entrega delivery de produtos orgânicos e agroecológicos em Maceió.
A pesquisa foi realizada sob a coordenação da professora Giovana Longo Silva e da mestranda Priscila Oliveira. E o que os estudantes descobriram? Da quatro empresas entrevistadas, três produzem e vendem seus alimentos, e somente uma trabalha apenas com a venda, pois a produção é por conta de produtores associados. “Percebemos que para realizar o controle das pragas, os produtores utilizam várias ervas, extratos e preparações caseiras naturais [como a pimenta, óleo de citronela, biofertilizantes orgânicos, ‘calda de água de vidro’ e cal virgem], ou plantas com propriedades antissépticas como a chamada ‘Neem’. Isso tudo representa alternativas para o tratamento de pragas que afligem plantações agroecológicas, ao invés do uso de agrotóxicos. Além disso, a própria natureza se encarrega de promover uma regulação própria, fazendo com que o número de seres vivos presentes na plantação se equilibre”, avisou a professora.
“Esta atividade prática remota, teve como objetivo conhecer esses agricultores e empreendedores rurais e entender como ocorre a produção, o plantio e o transporte dos alimentos e, assim, divulgar para a comunidade a presença desse serviço comercial livre de agrotóxicos na cidade, estimulando o consumo de alimentos saudáveis”, disse a professora Giovana.
Isso por que desde 2017 o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos no mundo. Em 2020, o governo brasileiro aprovou e registrou 493 agrotóxicos. “Alguns deles são proibidos em vários países devido ao elevado risco que representam à saúde. Esse mercado, que chama venenos de ‘defensivos agrícolas’, contamina o solo, a água e o ar, uma vez que vários litros de agrotóxicos são pulverizados nas plantações, em diversas etapas do crescimento das plantas”, afirmou a professora.
“Dentre todos os agrotóxicos usados no Brasil, apenas 52 apresentam baixa toxicidade, sendo a maioria classificada como extremamente tóxico e potencialmente cancerígeno. Com isso, é cada vez mais importante consumir alimentos orgânicos e agroecológicos, cuja forma de produção não utiliza nenhum agrotóxico ou outros ‘defensivos agrícolas’”, explicou Giovana.
Os alimentos orgânicos mais procurados pela clientela são hortaliças [como couve, alface, brócolis e rúcula] e frutas [como banana, limão e laranja]. Porém, a gama de produtos ofertados é imensa, incluindo verduras, chás, farinhas, grãos, geleias, missô, molho de tomate, shoyu, sucos, vinagres, produtos agroecológicos diversos, cogumelos, folhas e temperos, polpas de fruta, raízes, legumes, pães [até com opções sem glúten], mel, pólen, própolis, produtos veganos, frutas, produtos de higiene pessoal e até produtos de aromaterapia.
Todos os entrevistados relataram crescimento da demanda durante a pandemia, principalmente por alimentos como mel e própolis vermelha, devido ao possível aumento do potencial imunológico que esses produtos oferecem.
Porque usar orgânicos
A professora explica ainda que produção agroecológica respeita a sazonalidade dos alimentos, ou seja, a melhor época de cultivo, por isso sempre são obtidos alimentos mais nutritivos e saborosos, diferente da agricultura convencional que visa estritamente ao lucro, produzindo em larga escala o ano inteiro alimentos não tão gostosos e com altos níveis de agrotóxicos.
Investigando quais os alimentos que menos sofrem interferência da sazonalidade, foi consenso entre os entrevistados que são a laranja lima e a abóbora, enquanto os que mais sofrem são os ovos caipira. Ainda assim, o preço dos alimentos agroecológicos vendidos nas feiras é muito mais barato, mesmo considerando a taxa de entrega do sistema de delivery, do que os mesmos alimentos agroecológicos vendidos em supermercados.
Sobre este assunto, os estudantes questionaram também o fato de muitos consumidores acharem que alimentos agroecológicos são mais caros e o que, na opinião deles, contribuiria para o encarecimento da produção. Os produtores relataram, que a mão de obra é um fator importante a ser considerado, visto que demora vários dias para limpar a plantação, sendo este processo de controle preventivo do mato, manual ou mecânico (roçadas), diferente do convencional: “Para limpar na enxada, são vários dias, diferente de quem usa produto químico, que usa o produto e passa meses para o mato voltar a crescer […]”, disse o representante de uma das empresas entrevistadas.
“Temos o baixo investimento público e altos gastos para transporte, combustível, organização e para o próprio cuidado com a produção -que é muito maior do que em plantações convencionais”, afirmou outro produtor.
Como baratear?
Os estudantes também levantaram ideias, baseando-se nas entrevistas, para baratear o preço final dos produtos orgânicos, sendo os principais citados: ampliar a visibilidade dos alimentos orgânicos e agroecológicos pela população e aumentar os investimentos governamentais no planejamento e organização do uso do espaço da cidade, a fim de favorecer a produção e a comercialização [presencial ou por pedidos via delivery] de produtos e alimentos orgânicos e agroecológicos.
Como comprar
Todas as empresas/feiras entrevistadas possuem perfis no Instagram e disponibilizam número de Whatsapp. Para os pedidos de entregas, todas utilizam sites próprios e quase todas usam também o Whatsapp para essa função. Além disso, as feiras entregam todos os alimentos dentro do tempo previsto no site e/ou combinado com o cliente.
“Nenhuma feira faz parte de cooperativas, nem recebem auxílios/incentivos fiscais do governo, o que sugestiona pouco investimento e apoio públicos na produção de alimentos orgânicos e agroecológicos e na manutenção dos sistemas de delivery desses alimentos na cidade. As feiras são organizadas por meio dos próprios feirantes e parceiros associados, que, muitas vezes, são outros produtores rurais e/ou instituições filantrópicas; o que reforça mais ainda a necessidade de investimento público para fortalecer e incentivar a manutenção desses comércios saudáveis e a produção orgânica e agroecológica como um todo”, afirmou Giovana.
A pesquisa
A pesquisa foi feita por meio de um formulário criado com base em discussões dentro da disciplina, os estudantes se dividiram em grupos para realizar entrevistas on-line [via Google Meet], com um representante de cada empresa/feira, coletando dados relativos a questões como localização, tipo de produção, controle de pragas, produtos vendidos e outras informações relevantes para caracterizar esses comércios.
As perguntas cujas respostas foram abertas, foram interpretadas e analisadas conjuntamente por toda a turma e outras [como tempo de existência da empresa/feira e variáveis dicotômicas/numéricas] foram analisadas por um software estatístico. Em seguida, os resultados foram compilados e resumidos para divulgação à sociedade, objetivando incentivar a alimentação orgânica e agroecológica.
Empresas entrevistadas na pesquisa: