De amante da literatura brasileira a escritor premiado: conheça Francisco Batista
Estudante da Ufal veio de Guiné Bissau e conta como conquistou o 19º Concurso Literário José Carlos Schwartz, na categoria Contos
- Atualizado em 20/02/2025 00h03

No coração da Guiné-Bissau surgiu o amor pela literatura do Brasil e este conduziu o jovem escritor Francisco Batista, estudante de Letras da Ufal, a vencer, pela primeira vez, a 19ª edição do concurso literário José Carlos Schwartz, na categoria de contos, com O Bom Camponês. Sua vitória, além de destacar a habilidade com as palavras, reflete sua profunda conexão com a literatura do país que o acolhe e que ele descreve como uma fonte inesgotável de inspiração e aprendizado.
Entre os vários contos lidos, o jovem encontrou as vozes que moldaram sua escrita e o levaram a conquistar o reconhecimento internacional. O estudante de Letras, filho de uma família de oito pessoas e único a morar no Brasil, soube do concurso por meio de uma rede social, na página oficial do centro cultural Brasil-Guiné-Bissau, chamado Instituto Guimarães Rosa (IGR). “Desde 2019, eu tenho acompanhado esse tradicional concurso literário. Eu assisti, inclusive, à entrega da premiação em 2022, quando eu ainda estava na Guiné-Bissau”, explicou.
Apaixonado pela leitura, Francisco conta como iniciou sua vivência pelo mundo dos contos e, mais especificamente, como se aproximou da literatura brasileira ainda em seu país. “Na Guiné-Bissau, eu ia à embaixada do Brasil para ler. Há uma biblioteca no IGR, a qual fica aberta para o público. Lá eu lia qualquer coisa, sem orientação de ninguém, mas um dia, a bibliotecária indagou-me: já leu o maior escritor brasileiro? Eu disse que não”, contou. Foi assim que o futuro bacharel em Letras teve seu primeiro contato com Machado de Assis, seu autor brasileiro favorito. Apaixonado por Memórias Póstumas de Brás Cubas, o estudante aponta outros textos machadianos de sua preferência. “Quando penso nos seus brilhantes contos tais como A cartomante, A causa secreta, A missa do galo, O espelho, Teoria do Medalhão e afins”, concluiu.
Vida universitária
Vivendo em Alagoas há pouco mais de um ano, o jovem Francisco está no oitavo período do curso de Letras na Ufal e conta como o intercâmbio tem sido proveitoso para a sua vida pessoal e profissional. “Por agora, ainda não deparei com nenhuma dificuldade pelo fato de ser estudante estrangeiro, muito pelo contrário, os meus colegas da turma, desde o primeiro semestre, têm sido ótimos para comigo em todos os sentidos. Sem falar dos professores que têm sido benévolos tanto na atuação em sala como nas orientações pessoais que, de quando em quando, recebo por parte deles. Na verdade, para ser sincero, é, sobremaneira, um bom ambiente de muitos aproveitamentos e muitas aprendizagens”, comemorou.
A sua aproximação com o mundo das letras aconteceu após um curso de aperfeiçoamento em seu país, que o levou a ensinar a Língua Portuguesa e o fez desistir do curso de Direito. “Quando passei no teste para vir estudar no Brasil, disse a mim mesmo que vou fazer Letras-Português, uma vez que tenho domínio em Língua Portuguesa, foi assim que decidi e escolhi fazer Letras”, contou. Da decisão até vir para a Ufal foi só uma questão de tempo.
Após passar pelo processo seletivo do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), ele escolheu a Ufal por já ter amigos por aqui. “Vale dizer que as pessoas sempre escolhem as universidades onde têm amigos, familiares ou conhecidos, porque, com certeza, seria difícil escolher onde a pessoa não conhece ninguém. É desse jeito que, eu tendo já um amigo aqui, escolhi a Ufal”, explicou.
Planos para o futuro
Após a comemorada premiação, o estudante faz planos, que, claro, têm a Literatura como principal inspiração. “Para além de vender muitos livros, os escritores também querem ser premiados, isso evidencia que alguém está de outro lado apreciando o seu trabalho, sobretudo no concurso dessa magnitude, com críticos literários, com consagrados escritores guineenses, compondo de jurados, de certa forma, isso traz satisfação enorme à nossa alma. Por outro lado, senti-me comprovado para ser um escritor e que posso ter grandes conquistas na minha carreira”, vislumbrou.
Mas mesmo com o olhar voltado para o futuro, Francisco faz questão de lembrar quem o ajudou no caminho das letras, seus colegas e professores e não deixa de recordar, com carinho, sua passagem pela Ufal. “’A satisfação de quem auxilia é mais convulsivo que a satisfação de quem é auxiliado’, ou seja, esse prêmio dedico-o a toda comunidade acadêmica da Ufal, sobretudo aos meus professores da Fale que sempre me orientaram sobre as composições literárias. Também aos meus amigos estudantes mais próximos que sempre, com eles, compartilhei os meus textos ainda inacabados”, finalizou.