Pesquisadores colaboram para esclarecer problema causado pela Braskem
Artigos e debates levantam referências científicas de décadas atrás, como uma publicação de 1992
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A iminência de subsidência de uma das 35 minas escavadas pela Braskem para extrair sal-gema finalmente despertou a atenção do país para a gravidade do problema causado pelo crime socioambiental em Maceió.
Mas os protestos, alertas de pesquisadores e publicações de artigos científicos sobre o problema já vêm de décadas. Esses registros também estão sendo recuperados agora quando toda a sociedade quer entender como chegamos aqui.
Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), de diferentes áreas do conhecimento, têm sido demandados para entrevistas, palestras, reuniões técnicas, entre outros espaços de discussão.
Em 2022, diante de tantas solicitações por fundamentação técnica independente, ou seja, sem financiamento direto da própria empresa que está sendo responsabilizada pelo afundamento de cinco bairros, seis pesquisadores lançaram o livro Rasgando a cortina de silêncios.
Este livro, publicado pela editora Instituto Alagoas, foi apresentado em uma mesa-redonda realizada na 10ª Bienal do Livro de Alagoas, em agosto de 2023. A publicação, reúne artigos de Abel Galindo, Cláudio Vieira, Edson Bezerra, Elias Fragoso, Isadora Padilha e José Geraldo Marques.
A Bienal foi um momento importante para dar visibilidade a esse e outros trabalhos publicados sobre os cinco bairros atingidos pela mineração de sal-gema, como é possível avaliar pelas entrevistas concedidas pelos autores na Rádio Ufal que estão disponíveis no podcast.
A rocha torna-se mole como gel
Não é fácil para quem não é da área entender o linguajar técnico e os cálculos feitos pelos engenheiros responsáveis por um processo complexo onde se injeta água com alta pressão no subsolo da cidade, há 800 m de profundidade, para bombear a salmoura concentrada utilizada pela indústria na produção de PVC, soda cáustica, cloro, entre outros produtos.
Mas o professor Abel Galindo divulgou um estudo publicado em 1992, pela Universidade de Houston, citado no artigo dele para o livro Rasgando a cortina de silêncios, cujos autores, Paulo Cabral e Álvaro Maia, explicam, com cálculos e ilustrações, que o diâmetro das minas deveria ser no máximo de 53 metros e a distância de eixo a eixo entre as cavernas deveria ser de 100 metros.
Ou seja, como alerta o professor Abel Galindo há décadas, se as cavernas das minas foram excessivamente alargadas, a ponto de fundirem-se, se a falta de preenchimento levou ao risco de subsidência, realmente não foi por falta de alertas fundamentados. “Nessas condições, a rocha halita, que tem a propriedade perigosa de fluência, passa a fluir e torna-se mole, como gel”, escreveu o engenheiro e pesquisador aposentado da Ufal.
Em um debate, que contou com a participação do professor Abel Galindo, realizado no anexo do Teatro Deodoro, em dezembro de 2021, ele também citou esse estudo de 1992. Na ocasião, o professor Abel Galindo comentou que o trabalho foi escrito por engenheiros que conhecem de perto a mineração realizada em Maceió. Portanto, não foi por falta de informação técnica que a situação chegou até aqui.
Em 2019, o Serviço Geológico Brasileiro (SGB-CPRM), realizou o estudo sobre a instabilidade do terreno nos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, e constatou que a extração de sal-gema provocou uma desestabilização das cavidades da mina, com ocorrência de movimentação e ascensão do sal (processo denominado como halocinese) e reativação de estruturas geológicas preexistentes, subsidência e rupturas superficiais em parte dos bairros.
Texto citado pelo professor Abel Galindo:
MAIA, Álvaro Maia e CABRAL, Paulo. Análise de tensões e dimensionamento de cavernas por dissolução de halita da bacia evaporítica no estado de Alagoas no Brasil. Houston, 1992.
Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) - 2019
Estudos sobre a instabilidade do terreno nos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, Maceió (AL)
GEOLÓGICO SERVIÇO DO BRASIL-CPRM, D. O. Estudos sobre a instabilidade do terreno no bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, Maceió (AL). CPRM, 2019.
Outro artigo que cita a publicação de 1992:
A Perda do Patrimônio Cultural em Decorrência do Maior Desastre Ambiental em Curso no Mundo:
o caso da subsidência dos bairros em Maceio (AL)
de Adriana Capretz Borges da Silva Manhas