Caramujos africanos podem ser utilizados na produção do Etanol

No início do agosto, a praga de caramujos africanos invadiu novamente o noticiário local. Como sempre acontece no período de inverno, os moluscos aproveitam o período chuvoso para sair das matas e buscar alimentos. No interior e na periferia de Maceió, eles são vistos em grande quantidade e incomodam bastante os moradores, devorando plantações. Como as crianças brincam muito com os caramujos, as mães também se preocupam com a possibilidade de doenças.


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Os caramujos são considerados uma praga agrícola
Os caramujos são considerados uma praga agrícola

Lenilda Luna - jornalista

Um mestrando em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Alagoas afirma que a praga também pode ser utilizada de forma benéfica. Mauricio Carneiro Aquino é médico veterinário, foi um dos fundadores da Associação de Helicicultores do Rio de Janeiro -a primeira associação de criadores de caracóis do Brasil - e hoje se dedica a tese sobre o Achatina fulica, o caramujo africano, no Brasil. “Meu objetivo é avaliar o potencial zooterápico e recomendar formas eficientes de aproveitamento dessa espécie invasora”, explica o pesquisador.

A pesquisa de Maurício Aquino é orientada pela professora Marília Goulart, do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal. A pesquisadora, que já ganhou o Prêmio Marie Curie, concedido pela Sociedade Brasileira de Química, atualmente é professora de mestrados e doutorado no Instituto de Ciências Biológicas da Ufal e na Rede Nordeste de Biotecnologia.

O vilão da história

Segundo o pesquisador Mauricio Aquino, os caracóis africanos que vivem até seis anos em condições favoráveis, alimentam-se mais de 500 diferentes espécies vegetais, incluindo plantas economicamente importantes, como o cacau, mamão, amendoim, borracha e diversas variedades de feijões, ervilhas, pepinos, melões, liquens, algas e fungos.

A praga também está associada a doenças graves, como a Meningite Eosinofílica, doença parasitária potencialmente fatal, causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis. “A Meningite Eosinofílica é uma doença grave que já causou em todo o mundo quase três mil mortes",diz ele. 

O consumo de moluscos crus ou mal cozidos é a principal via de infecção na China e sudeste da Ásia. No Caribe, legumes e condimentos contaminados foram responsabilizados por um surto na Jamaica. No Brasil, onde só ocorreram dois casos até agora, o caracol africano (Achatina fulica) vem sendo considerado o grande vilão da história”, informa o pesquisador.

Preocupações ainda maiores

“No Brasil, nossa preocupação há alguns anos é com o caracol africano (Achatina fulica) e o seu potencial como hospedeiro intermediário do A. cantonensis, no entanto, o que uma pesquisa chinesa claramente evidencia é que o nosso caramujo nativo, conhecido pelo nome de Aruá (Pomacea canaliculata), pode vir a desempenhar um papel muito mais preocupante que o próprio Achatina fulica.

Pesquisadores submeteram o caracol africano a infecções experimentais por A. cantonensis e A. costaricensis e constataram que ele não representa uma ameaça significativa para a saúde humana no Brasil pois não se comporta, propriamente, com um vetor significativo.

“O artigo chinês é surpreendente e contribui para lançar luz à escuridão, demonstrando, claramente, que o problema no Brasil não é a presença do caracol invasor africano que, raramente, pode ser hospedeiro intermediário ao A. cantonensis e transmitir a Meningite Eosinofílica mas sim, a grande fragilidade da fiscalização sanitária em nossas duanas que já permitiu, aparentemente, a entrada do principal hospedeiro definitivo contaminado do A. cantonensis em duas cidades portuárias no país, Vitória e Recife, onde diagnosticou-se os dois casos de Meningite Eosinofilica no país, em 23 anos”, ressalta Mauricio Aquino.

O risco do combate

Maurício Aquino ressalta que, em todas as partes do mundo onde existe a praga de caramujos, o combate acaba sendo bastante prejudicial à saúde. “Especialistas indianos vêm recomendando a utilização de venenos, entre eles, o Arseniato de Cálcio e o Metaldeído, em áreas de alta infestação. No entanto, curiosamente, eles desestimulam o uso do sal, devido as alterações o pH do solo. De acordo com os pesquisadores, a carne do molusco, morto com o sal, exala um cheiro intenso e desagradável”, destaca o pesquisador.

Mauricio discorda da utilização de produtos químicos perigosos para eliminar a praga. “Em minha opinião, o uso de venenos deve ser abolido, pois além de constituir num grande risco para a flora e fauna, para o lençol freático e o meio ambiente como um todo, constitui-se num enorme risco para crianças, especialmente, em áreas de grande densidade populacional”, explica Maurício

Encontrando utilidades para o vilão

“Minha sugestão é que a energia e os recursos desperdiçados nas tentativas infrutíferas para o controle do Achatina fulica sejam imediatamente redirecionados para pesquisas que apontem formas de controle através do aproveitamento racional do invasor e para aperfeiçoar, especialmente, o controle das principais portas de entrada de roedores contaminados no Brasil, especialmente, os portos e aeroportos pois, mesmo que consigamos erradicar o Achatina fulica no país, dificilmente poderemos erradicar o caramujo nativo Pomacea canaliculata que constitui, em algumas regiões, um precioso recurso alimentar”, defende Maurício

Segundo o mestrando, existem pesquisas visando a exploração do enorme potencial zootécnico desta espécie para fins nutricionais e farmacológicos. “Este deve ser o principal enfoque para o controle das infestações no ambiente natural que, graças ao próprio homem, estão em avançado estado de degradação e desequilíbrio”, diz o mestrando.

Leia o artigo Mauricio Aquino: Caracóis africanos podem virar Etanol de segunda geração e veja os vídeos produzidos sobre o tema:

Moradores do Clima Bom estão assustados com invasão dos caramujos;

TV Gazeta entrevista Mauricio Aquino sobre os caramujos.