Historiadores resgatam a trajetória dos militantes da esquerda em Alagoas

Em todas as partes do mundo, a História foi escrita pelos vencedores. Mas, muitas vezes, os vencidos encontraram alternativas para manter viva a memória dos que lutaram contra a ordem estabelecida. Aqui em Alagoas, esses testemunhos dos rebeldes ficaram abafados por muito tempo. Por isso, um grupo de pesquisadores resolveu se dedicar a recuperar estes arquivos e recontar alguns fatos históricos do ponto de vista de quem lutou contra o poder e pagou um preço alto por esta ousadia.


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Atividades do grupo de pesquisa em Arapiraca
Atividades do grupo de pesquisa em Arapiraca

Lenilda Luna - jornalista

O grupo de pesquisa “História Social e Política” foi formado em 2009, sob a coordenação do professor Alberto Saldanha. Atualmente, o grupo é coordenado pelos professores de História Ana Paula Palamartchuk e Osvaldo Batista Acioly Maciel. Participam do projeto, nove pesquisadores e 19 estudantes de História, que desenvolvem quatro linhas de pesquisa: História da Política Externa no Brasil, História das Esquerdas: Política e Cultura, História Política da Alagoas Republicana e História Social do Trabalho.

Fontes documentais

O grupo começou por uma verdadeira busca nos arquivos, o que não foi uma tarefa fácil, porque os documentos não eram digitalizados e nem todos estavam em boas condições de preservação. Foi preciso digitalizar este material, em parceria com o Arquivo Público de Alagoas, o que possibilitou a participação de Alagoas no projeto “Memórias Reveladas: Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985)”. Esse projeto foi idealizado pelo Governo Federal com recursos da Lei Rouanet.

O trabalho do grupo de pesquisa também contribuiu para consolidar o Centro de Pesquisa e Documentação Histórica (CPDHis) da Ufal. A partir de maio de 2009, a equipe organizou a documentação doada ao Arquivo Público de Alagoas, por Geraldo Majella Marques, ex-militante do PCB de Alagoas, além de outras fontes de pesquisa sobre a Esquerda Brasileira. Um primeiro resultado desse trabalho será apresentado na Bienal, com o lançamento do livro "A Indústria Têxtil, a Classe Operária e o PCB em Alagoas", de autoria de Alberto Saldanha.

Articulando os pesquisadores

Segundo o professor Osvaldo Maciel, uma das vantagens do grupo de pesquisa foi agrupar os professores de História com interesse nessa temática e que antes trabalhavam de forma dispersa. “São professores da área de História Social do curso de História da Ufal que discutem História do Trabalho, História da Esquerda e História Política em sentido lato, inclusive política e relações internacionais, em uma espécie de 'guarda chuva' que abrigue interesses em comum, apesar de mantermos também algumas diversidades metodológicas”, explica o coordenador da pesquisa.

Agora em agosto, o grupo de pesquisa realizou o I Colóquio, em atividade conjunta com a Uneal. “O objetivo foi congregar interessados, maturar um pouco mais nossas ideias e interesses de pesquisas e socializar um pouco de nossas atividades”, disse Osvaldo Maciel. Durante o encontro, o professor Fernando Teixeira, da Unicamp, ministrou uma palestra sobre História Social do Trabalho e das Esquerdas no Brasil.

Livros “reeditam” a História destacando os que foram “silenciados”

Escrever a História do Brasil e de Alagoas com a participação das classes trabalhadoras é um desafio. “A censura cruel que foi imposta no Estado fez com que muitas fontes documentais e testemunhais simplesmente desaparecessem”, alerta Osvaldo Maciel. O professor destaca ainda que muitos dos líderes que tiveram participação ativa nem mesmo são conhecidos. “Um exemplo disso é João Ferro, líder socialista do final do século XIX, em Fernão Velho, bairro operário de Maceió. A história dele estava esquecida e ainda é ignorada por muitos alagoanos”, lamentou o pesquisador.

Parte da trajetória de João Ferro foi recuperada no livro “Trabalhadores, Identidade de Classe e Socialismo”, do professor Osvaldo Maciel, lançado pela Edufal na Bienal do Livro de 2009. Esse livro discute a constituição de uma consciência de classe entre os trabalhadores de Maceió através da atuação dos tipógrafos no período entre 1895 e 1905.

Outro trabalho que resgata a história dos trabalhadores em Alagoas de autoria do professor Osvaldo Maciel, foi lançado em maio desse ano, pela Uneal, com o título “Pesquisando (n)a província: economia, trabalho e cultura numa sociedade escravista (Alagoas, século XIX)”. O livro é resultado das atividades do Grupo de Estudos Mundos do Trabalho, que o professor coordena na Uneal desde 2005, mas contou com a colaboração de professores e pesquisadores da Ufal, e está à venda na Edufal.

“Basicamente, o livro apresenta alguns aspectos da vida social, econômica e cultural de Alagoas no século XIX a partir de uma perspectiva que esteja atenta a outros grupos sociais (escravizados, africanos livres, indígenas etc), que não apenas as elites, afinal nossa terra não é apenas a terra dos marechais! Do mesmo modo, o livro, assim como as minhas outras pesquisas, possui um aceno muito forte com a pesquisa empírica, com o manuseio de fontes históricas 'inéditas' ou pouco exploradas”, relata Osvaldo Maciel.

“O importante é registrar a História de Alagoas que não tenha uma visão elitista. A oligarquia no Estado é muito forte e impôs uma dupla derrota a quem ousou se rebelar: na hora da luta e na preservação da memória. Precisamos corrigir essa deturpação histórica”, conclui o professor.