Pesquisadores das universidades alertam sobre o impacto do óleo para as aves
Documento foi dirigido às autoridades do Governo Federal e dos governos estaduais
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Pesquisadores e ambientalistas de todo o país estão buscando respostas para a tragédia ocorrida nas últimas semanas no litoral nordestino, com a chegada de grandes quantidades de óleo à costa, após um derramamento no mar, ainda sob investigação para determinar as circunstâncias, a origem e a extensão do dano. Sabe-se que as consequências são graves para o meio ambiente e que não são apenas os animais aquáticos que estão sendo atingidos.
O Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) e Colaboradores do Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Limícolas Migratórias emitiu um posicionamento sobre o derrame de óleo nas praias do nordeste, dirigido às autoridades do Governo Federal e dos governos estaduais das regiões atingidas, incluindo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Órgãos Estaduais de Meio Ambiente (OEMAs), Programas Estaduais de Gerenciamento Costeiro (Gerco).
Entre os pesquisadores de todo o país que assinam o documento, está o professor Renato Gaban-Lima, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), da Universidade Federal de alagoas (Ufal), doutor e pós-doutor em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do laboratório de Morfologia Sistemática e Ecologia de Aves do Museu de História Natural (MHN) da Ufal. “Infelizmente, esse derramamento de petróleo atingiu os ambientes onde as aves migratórias costumam descansar e se alimentar”, lamentou o professor em entrevista à Rádio Ufal.
O documento informa que nos dias 12 e 13 de outubro comemorou-se o Dia Mundial das Aves Migratórias. “As datas coincidem com a época de migração dessas aves. Agora em outubro, elas estão em pleno movimento, deixando suas áreas de reprodução ao norte em busca de descanso e alimentação ao sul. Deslocam-se por centenas a milhares de quilômetros entre o extremo norte e sul de suas viagens. Dentre essas aves viajantes temos beija-flores, passarinhos, gaviões, aves de rapina, aves marinhas e aves limícolas”, relata o documento.
A tragédia provocada pelo derramamento de óleo e pela chegada de grandes quantidades ao litoral nordestino, contaminando os biomas costeiros, se deu justamente quando as aves estão percorrendo as rotas migratórias e quando mais precisam dos alimentos e do abrigo que encontravam no trajeto. “O óleo que está sujando praias e manguezais, desde o Maranhão até a Bahia, está afetando muitas áreas importantes para as aves limícolas migratórias. As grandes manchas de óleo fazem com que a praia fique indisponível para as aves e as manchas menores sujam suas patas e penas, e ainda contaminam seu alimento e sua água”, lamentam os pesquisadores.
Os membros do Grupo de Assessoramento Técnico e colaboradores do Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Limícolas Migratórias destacam que as praias afetadas pelo óleo são utilizadas por quatro espécies de aves limícolas ameaçadas de extinção (Calidris canutus, Calidris pusilla, Limnodromus griseus e Charadrius wilsonia) e que o Brasil é signatário da Convenção sobre Espécies Migratórias de Animais Selvagens (CMS), tendo a responsabilidade de proteger essas espécies.
Os especialistas recomendam às autoridades que sejam tomadas medidas como contenção para evitar o avanço da contaminação dos sítios importantes para aves limícolas, monitoramentos nos sítios para acompanhamento da alteração populacional de aves e de invertebrados costeiros, seguindo protocolo adequado para aves limícolas; informar ao GAT quais procedimentos foram adotados para descontaminar as praias e manguezais importantes para as aves.
Além do professor Renato Gaban, da Ufal, assinam o documento: Ana Maria Marcelino (Idema/RN), Bruno Jackson Melo de Almeida, Carlos David da Silva Oliveira dos Santos (UFPA), Demétrio Luis Guadagnin (UFRGS) Glayson Bencke (Sema/RS), Jason Alan Mobley (Aquasis/CE), João Paulo Tavares Damasceno (UFRN), Juliana Bosi de Almeida (Save Brasil), Laís de Morais Rêgo Silva (Sema/MA), Luís Fernando Carvalho Perelló (Sema/RS), Maria Raquel de Carvalho (Save Brasil), Patrícia Mancini (UFRJ) e Wallace Rodrigues Telino Júnior (UFRPE)