Analfabetismo, pobreza e mortalidade desafiam Alagoas

Com os piores indicadores do País, ao longo dos anos Estado mudou muito pouco


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Carla Serqueira – repórter da Gazeta de Alagoas

 

Apesar do otimismo do governo, os números revelam que Alagoas avançou muito pouco no combate à pobreza, à mortalidade infantil e ao analfabetismo. Ano após ano, o Estado se mantém detentor dos piores indicadores sociais do Brasil. De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio divulgada pelo IBGE, a pobreza atinge 60,42% dos alagoanos. Há 15 anos, o índice era 68,2%. A avaliação de especialistas aponta para uma evolução igualmente lenta para os próximos anos, levando em conta o quadro atual. Em Maceió, Coruripe, Joaquim Gomes, Marechal Deodoro e União dos Palmares, cidades que recebem recursos federais para combater a mortalidade, o número de bebês cresceu entre 2008. Em mortalidade, outros 32 municípios são considerados de risco alto e risco médio para crianças.

 

Indicadores sociais desafiam governo

Embora apresente avanços, Alagoas ainda segue no ultimo lugar do Brasil em mortalidade infantil, pobreza e analfabetismo.

 

"Tempo de semear e colher". Na capa azul da revista de 86 páginas, o título vem em branco abaixo da foto de uma criança sorridente, diante de um prato de comida bem servido no recreio da escola. A publicação foi espalhada por Alagoas na última semana, desde a segunda-feira, 25, quando o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) resolveu dividir um café da manhã com jornalistas em Maceió. Foi com a mesa servida que profissionais da imprensa folhearam os três anos de governo. A revista foi o jeito que o governador encontrou de prestar contas no ano de disputa eleitoral.

 

"Mesmo enfrentando dificuldades locais e conjunturais, o Estado avançou, cresceu e se fortaleceu", escreveu o governador, no texto de abertura. Nele, Vilela resume sua gestão dando ênfase ao combate à mortalidade infantil, à instalação de um estaleiro, à continuidade da construção do quase lendário Canal do Sertão, ao planejamento da Educação com o projeto Geração Saber, aos avanços no turismo, à credibilidade fiscal e â agricultura cuja produção, segundo ele, bateu recordes em 2009.

 

Em seguida, o governador  tocou na "ferida" de todo alagoano: os indicadores sociais. Não foi uma nem duas vezes que ele discursou, dizendo ser o desafio de sua gestão reduzir as taxas que historicamente desmoralizam o Estado. "Nossa prioridade em 2010 continua sendo a luta contra a mortalidade infantil que ceifa vidas e envergonha o Estado", assinalou Teotonio Vilela, indo além: "Mas também vamos dar especial atenção aos índices de crescimento da economia estadual, principalmente na indústria e no turismo", se comprometeu, pregando que o trabalho "dignifica o homem".

 

Prova da verdade

Sem modéstia, o governador segue para a conclusão do seu editorial: "Ainda há muito por fazer, mas muito também foi realizado. Nosso compromisso com a modernidade e com o bem-estar dos alagoanos continua sendo a razão de ser deste governo". Vilela, que publicamente se esquiva de falar sobre candidatura para a reeleição, escreve demonstrando segurança de que não há outro caminho além do que escolheu a partir de 2006, quando foi eleito governador. "Temos convicção de que estamos no rumo certo e fazendo as coisas certas." - tacou ele um ponto final no texto, antes da frase de efeito: "Esta revista é a prova desta verdade".

 

Mas, "a verdade verdadeira" mesmo - como diz o clichê - está nos números. E a Gazeta foi em busca deles. O retrato do Estado que amarga décadas entre os piores do Brasil está nas tabelas desta reportagem. Especialistas afirmam que não se muda uma realidade de anos em uma gestão. Investimentos são importantes, mas devem ser feitos em áreas específicas, dizem eles. Trazer grandes empreendimentos não basta para melhorar efetivamente a vida dos mais de 60% da população alagoana que vive na pobreza. É mais da metade do povo de Alagoas lutando para sobreviver com meio salário mínimo por pessoa.

 

O desafio é maior do que a vontade de qualquer gestor. Só o tempo dirá quem acertou a estrada para o rumo da emancipação social e econômica de Alagoas. Por enquanto, o que se pode constatar são avanços ainda tímidos. Alagoas melhorou alguns indicadores, mas ainda segue no último lugar do Brasil em mortalidade infantil, no percentual de pobres e em taxa de analfabetismo, "tempo de semear e colher" é sempre bem-vindo. Mas a reza é pela hora de comer. Pela hora de virar a página e nunca mais encarar Alagoas como o pior Estado para viver.

 

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