Cinco referências para entender os 50 anos da Ufal
Em 26 de janeiro de 1961, na biblioteca do Palácio da Alvorada, em Brasília, um acontecimento daria uma nova configuração à realidade cultural de Alagoas. Nesta sessão ocorrida no final do governo de Juscelino Kubitschek, era sancionada a lei de criação da primeira Universidade de Alagoas, a Ufal.
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Simone Cavalcante - jornalista e Élcio Verçosa - doutor em Educação
Além do presidente da República, estiveram presentes, na solenidade, o médico A. C. Simões, então diretor da Faculdade de Medicina de Alagoas, o assessor do MEC, Edgar Magalhães, e o deputado federal alagoano Medeiros Neto. Como todo fato histórico deve ser situado no seu contexto, vale recordar o que se passou no mundo e no país nessa época.
Na década de 60, vários episódios modificaram o perfil de países em todo o mundo. Alguns deles significaram avanços, como a criação da Anistia Internacional e a chegada do soviético Yuri Gagarin ao espaço; outros ergueram pilares separatistas nas rotas para uma sociedade igualitária, a exemplo de conflitos sociopolíticos e ideológicos, como a Guerra Fria e a construção do Muro de Berlim, na Alemanha.
Já o Brasil vivia sobre os trilhos de uma corrida desenvolvimentista, que terá como principais marcos o Plano de Metas de JK, o famoso “50 anos em 5”, que impulsionou as áreas da indústria, energia e transporte; as reformas de base do governo de João Goulart; e a política centrada em lemas como “Brasil Grande” conduzida pelos militares do regime ditatorial (1964-1985). Enquanto em alguns aspectos o país avança, de outro lado, a população se sente acuada com os efeitos colaterais dessas políticas: achatamento salarial, autoritarismo, concentração de renda, inflação, dependência do capital externo, censura e repressão social.
Entre conquistas e solavancos, a sociedade civil busca diferentes formas de organização com o propósito de pressionar os governos para atender seus anseios. Das conquistas alcançadas, sobretudo nos anos 1950 e 1960, está a criação de um expressivo número de universidades públicas de norte a sul do Brasil. Intelectuais, profissionais liberais, estudantes, professores e políticos mobilizam-se e enfrentam verdadeiras “odisseias” para atravessar os trâmites da burocracia e alcançar a legalização de seus projetos de instituição federal de ensino superior.
Nessa época, são reconhecidas pela União as universidades dos estados do Ceará (1954), Espírito Santo (1954), Paraíba (1955), Pará (1957), Rio Grande do Norte (1958), Santa Catarina (1960), Goiás (1960), Maranhão (1967), e Sergipe (1968). O surgimento da Ufal acompanha esse movimento de expansão do ensino superior brasileiro que segue um ritmo descompassado, impulsionado por diferentes motivações e realizado com séculos de atraso em comparação a outros países das Américas.
O ensino superior no Brasil teve início com a chegada da Família Real, em 1808, e sua formalização em faculdades isoladas se deu para atender a necessidades burocráticas e interesses meramente políticos. No entanto, a reivindicação de uma educação universalizante antecede a esse período, sendo uma das bandeiras de luta dos jesuítas que por aqui aportaram. Por ironia do destino, ou por mera coincidência, o documento atestando a criação da Ufal, assinado pelo presidente JK em 26 de janeiro de 1961, na verdade, continha a data de 25, como se o atraso de um dia expressasse simbolicamente os séculos de distância da realização de um sonho tão antigo.
Mas na ótica do médico A. C. Simões, uma das lideranças da mobilização pró-universidade e também primeiro reitor da instituição, o surgimento da Ufal tinha uma dimensão incalculável. No discurso proferido durante o jantar em comemoração do acontecimento, no Iate Clube Pajuçara, ele enfatizou: “Talvez, meus amigos, não se haja ainda aquilatado, na exata e justa medida, o valor e a importância que para nós todos, que nascemos ou vivemos nas Alagoas, representa a criação de nossa Universidade [...]. Num Estado pequeno e pobre como as Alagoas, a instituição e o desenvolvimento de uma Universidade em seu seio trará, não tenhamos dúvida, verdadeira revolução não somente sócio-cultural mas ainda verdadeira revolução econômico-financeira.”
Continua:
Uma fisionomia em permanente transformação
A expansão com um olhar atento para a pesquisa
O poder precisa emanar da sociedade